BR232
Várzea do Canal São Gonçalo


Site description (2005 baseline):

Site location and context
Ligação natural entre a laguna dos Patos e a lagoa Mirim, o canal São Gonçalo percorre ao longo de seus cerca de 75 km uma ampla várzea formada por terrenos sedimentares relativamente jovens. Em sua maior parte, essa várzea é delimitada por uma barreira de sedimentos mais antigos, de idade pleistocênica, que não está sob a influência do regime de inundações periódicas do canal. Campos inundáveis e banhados com diferentes fisionomias, desde aqueles caracterizados por amplos espelhos d’água até os constituídos por espessas turfeiras e densa cobertura vegetal, dominam a paisagem local, a qual é marcada aqui e ali por capões de mata palustre ou psamófila. Junto à barreira pleistocênica desenvolvemse, em muitos trechos, longos cordões de mata, que localmente dão lugar a dunas fósseis de considerável altura. A Várzea do Canal São Gonçalo engloba o segmento final da mata de galeria do rio Piratini, o maior e mais caudaloso curso d’água que deságua nesse canal, e também inclui duas lagoas razoavelmente extensas, Formosa e do Fragata. A salinização temporária de grande parte das águas do canal São Gonçalo e da lagoa Mirim, fenômeno anteriormente regular durante o verão, é impedida por uma eclusa construída nas imediações da cidade de Pelotas.

Key biodiversity
Levantamentos ornitológicos conduzidos em diferentes localidades, cujos resultados encontram-se apenas parcialmente divulgados, apontam a ocorrência de cerca de 260 espécies de aves na área. A diversidade de ambientes límnicos é res- ponsável pela presença de um elevado número de espécies de aves de áreas úmidas, destacando-se alguns grupos como Ardeidae (11 espécies), Anatidae (16 espécies) e Rallidae (14 espécies), assim como a excepcional representatividade de passeriformes paludícolas das famílias Furnariidae (6 espécies), Tyrannidae (7 espécies) e Icteridae (5 espécies). Várias espécies florestais, inclusive algumas endêmicas da Mata Atlântica, ocorrem especialmente ao longo do baixo curso do rio Piratini, alcançando marginalmente a várzea do canal São Gonçalo. A área abriga populações expressivas de Limnornis curvirostris (junqueiro-de-bicocurvo) e Cranioleuca sulphurifera (arredio- de-papo-manchado), dois endemismos do Pampa presentes em apenas outras cinco IBAs brasileiras. Gubernatrix cristata (cardeal-amarelo), conhecido para a extremidade sul dessa área através de um espécime coletado na década de 1930, parece estar extinto, não só localmente mas também em toda a planície costeira do Rio Grande do Sul. As duas espécies ameaçadas atualmente presentes, Xolmis dominicanus (noivinhade- rabo-preto) e Sporophila palustris (caboclinho- de-papo-branco), contam com registros apenas para os extremos norte e sul da área, que correspondem aos setores melhor explorados ornitologicamente, mas devem ocorrer também em trechos intermediários com hábitat adequado.

Pressure/threats to key biodiversity
Alguns milhares de hectares de banhados já foram drenados e descaracterizados para a expansão de lavouras de arroz, que ocupam a maior parte das áreas de entorno. Recentemente, novos canais de drenagem foram abertos ilegalmente em vários pontos da várzea. A cada ano, produtores de arroz utilizam grandes volumes de água dos mananciais locais (banhados e lagoas) para a irrigação das lavouras, justamente no período de déficit hídrico natural na região. A expansão urbana foi responsável pela eliminação de consideráveis porções de banhados naturais e ameaça trechos ainda bem preservados na Região Metropolitana de Pelotas. A captura ilegal de aves para manutenção em cativeiro e para abastecer o comércio clandestino de espécies silvestres é comum na área, especialmente nos arredores da localidade de Santa Isabel, onde Sporophila palustris foi registrado.


Recommended citation
BirdLife International (2024) Important Bird Area factsheet: Várzea do Canal São Gonçalo (Brazil). Downloaded from https://datazone.birdlife.org/site/factsheet/várzea-do-canal-são-gonçalo-iba-brazil on 22/11/2024.