BR110
Serras das Lontras e do Javi


Site description (2005 baseline):

Site location and context
A Serra das Lontras (localmente conhecida como Serra do Mangue) e a Serra do Javi fazem parte de um complexo montanhoso que se eleva próximo à costa sudeste da Bahia, a poucos quilômetros de Una (BA21). A região apresenta uma paisagem predominantemente florestal, formada por um mosaico de cabrucas, capoeiras e fragmentos de floresta, estes últimos concentrados nas partes mais altas das serras. A vegetação original é a Mata Atlântica úmida. Em altitudes maiores, o porte das árvores diminui e as briófitas tornam-se extremamente abundantes, devido ao alto índice de umidade. A densidade do sub-bosque também varia de acordo com a cota altimétrica, sendo este relativamente aberto nas áreas mais baixas e mais denso no alto das montanhas, onde há grande quantidade de bambus. Embora a avifauna da região tenha grande similaridade com aquela das montanhas do sudeste do país, pelo menos 25% das espécies de plantas encontradas nas serras das Lontras e do Javi são endêmicas do sudeste da Bahia e nordeste do Espírito Santo. O índice pluviométrico anual varia de 1.200 a 1.800 mm e a temperatura nunca baixa de 20ºC. Diversos cursosd’água se originam nas serras (rio Una, ribeirões Javi, Pratinha e Santo Antônio), as quais são uma importante fonte de recursos hídricos para as localidades circunvizinhas.

Key biodiversity
A avifauna das serras costeiras do sudeste da Bahia, incluindo a Serra da Ouricana, em Boa Nova (BA17), apresenta maior afinidade com aquela das montanhas do sudeste brasileiro do que com a das matas de baixada adjacentes do sul da Bahia. Os endemismos atlânticos Selenidera maculirostris (araçari-poca), Melanerpes flavifrons (benedito- de-testa-amarela), Myrmotherula gularis (choquinha-de-garganta-pintada) e Phylloscartes sylviolus (maria-pequena), este último próximo da condição de ameaçado, parecem ter nas serras das Lontras e do Javi seu limite setentrional de ocorrência, estando presentes também na vizinha Serra Bonita, em Camacã e Pau Brasil (BA23). Ao todo, ocorrem na área cerca de 223 espécies de aves, incluindo os ameaçados Synallaxis cinerea (joãobaiano) e Phylloscartes beckeri (borboletinha- baiana), recentemente descritos da região de Boa Nova. Acrobatornis fonsecai (acrobata), representante de um gênero descrito somente em 19963, parece estar associado ao hábitat de cabruca (sistema de cultivo onde o cacau é plantado à sombra de árvores nativas); entretanto, ainda existe pouca informação sobre os requisitos ecológicos da espécie, sendo necessários mais estudos para verificar se essa associação de fato existe. Evidências recentes, incluindo o registro de vocalizações em agosto de 2003, sugerem a ocorrência de Crax blumenbachii (mutum-de-bico-vermelho) na Serra das Lontras.

Pressure/threats to key biodiversity
O sudeste baiano foi o maior produtor de cacau do mundo no período entre 1930 e 1980. Entretanto, devido à praga da vassoura- de-bruxa (Crinipellis perniciosa), o sistema de cabruca entrou em colapso em 1980, afetado pela grande queda nos preços mundiais do cacau. Essa crise levou ao desemprego de milhares de trabalhadores rurais, que hoje dependem da agricultura (especialmente café e cultivos de subsistência) e da pecuária para sua sobrevivência. Ainda como conseqüência da crise, muitos proprietários venderam suas áreas de floresta para empresas madeireiras e converteram suas terras em pastagens ou plantações de café, processo que ainda continua ocorrendo na região. Outras importantes ameaças à avifauna da área são a caça predatória, que certamente contribuiu para a redução das populações locais de tinamídeos e cracídeos, e a captura de aves para o comércio de animais silvestres, que afeta sobretudo psitacídeos e Procnias nudicollis (araponga).


Recommended citation
BirdLife International (2024) Important Bird Area factsheet: Serras das Lontras e do Javi (Brazil). Downloaded from https://datazone.birdlife.org/site/factsheet/serras-das-lontras-e-do-javi-iba-brazil on 22/11/2024.