BR170
Itirapina


Site description (2005 baseline):

Site location and context
A Estação Ecológica de Itirapina está situada sobre o topo da Chapada de Itirapina, um tabuleiro arenoso isolado no centro do Estado de São Paulo, a aproximadamente 200 km da capital. Diversas fitofisionomias pertencentes ao domínio do Cerrado configuram a paisagem local e compõem um mosaico ou "espectro" de hábitats naturais formado por campos limpos, campos com arbustos esparsos (campos cerrados), capinzais úmidos que secam durante o inverno e áreas pantanosas, além de matas de galeria. Ao norte, os limites da área estendem-se até a margem da represa de Broa; a leste e a oeste, a área confrontase, respectivamente, com plantações de pínus (à margem direita do rio Itaqueri) e com a mata de galeria do córrego do Lobo. Ao sul, os remanescentes de campos cerrados e capinzais úmidos avançam por propriedades particulares além dos limites da E. E. de Itirapina, até pouco ao sul da rodovia Itirapina–Brotas. A Estação Experimental de Itirapina, com 3.212 ha, é contígua à estação ecológica mas inclui principalmente plantios de eucalipto e pinheiros exóticos. O clima da região é mesotérmico, com uma estação seca definida entre abril e novembro.

Key biodiversity
O amplo espectro ecológico formado por hábitats instáveis que formam gradações é o principal fator responsável pela presença de uma grande variedade de aves em Itirapina. Um estudo de longo prazo apontou a ocorrência de 231 espécies na área, das quais 163 foram consideradas regulares. Itirapina é um dos últimos refúgios no Estado de São Paulo para aves características dos campos naturais do domínio do Cerrado, sobretudo Polystictus pectoralis (papa-moscas-canela), Alectrurus tricolor (galito) e Culicivora caudacuta (papa-moscas-do-campo), que permanecem comuns na área. Por outro lado, alterações ambientais ocorridas na área e em seu entorno ao longo das últimas duas décadas levaram ao declínio ou fizeram desaparecer diversas outras espécies. Sumiram principalmente aves que dependem de hábitats específicos ou transitórios, como Nothura minor (codorna- mineira), Geobates poecilopterus (andarilho) e Charitospiza eucosma (mineirinho), a primeira pela conversão de campos cerrados em granjas de avicultura ou eucaliptais e os dois últimos aparentemente pela falta de campos recém-queimados ou moderadamente pastoreados na paisa gem regional. Também desapareceram localmente ou tendem a desaparecer Rhea americana (ema), Anthus nattereri (caminheiro- grande) e Coryphaspiza melanotis (tico-tico-de-máscara-negra). Entre as IBAs da região da Mata Atlântica, Itirapina ocupa a terceira posição em número de espécies endêmicas do Cerrado, embora três dos 13 endemismos desse bioma citados para a área não sejam registrados há 15 anos ou mais e provavelmente já desapareceram. Seis espécies migratórias de caboclinhos do gênero Sporophila, incluindo os ameaçados ou quase ameaçados S. palustris, S. cinnamomea e S. melanogaster, passam por Itirapina em direção ao sul durante a primavera, formando concentrações consideráveis em determinados anos. Ao que tudo indica, a área é um importante paradouro de alimentação ou descanso ao longo da rota de migração dessas espécies. Infelizmente, também esses caboclinhos tornaramse incomuns nos últimos anos.

Pressure/threats to key biodiversity
Itirapina é um dos últimos testemunhos de campos naturais em São Paulo. Em 1992, as fisionomias campestres representavam apenas 2% da área de cerrados no Estado. Além disso, ao longo das últimas duas décadas e meia, mais de 95% da superfície coberta por campos e campos cerrados em São Paulo foi destruída, principalmente para dar lugar a pastagens e plantações. Na E. E. de Itirapina, amplas áreas de campo foram convertidas em plantações de eucalipto e pínus ou transformadas em granjas e áreas agrícolas1. Atualmente, plantas exóticas invasoras, especialmente Brachiaria e Melinis minutiflora, grassam ao longo das estradas e aceiros, invadindo também terras recém-aradas. As plantações de pínus no interior da área e nas redondezas são a fonte para a invasão dos campos naturais por essa espécie exótica. Por causa do controle rigoroso de incêndios, a vegetação campestre vem se tornando progressivamente mais alta e densa desde 1995, e algumas áreas tendem ao cerradão, o que elimina o hábitat das aves de campos baixos. A caça, a captura de aves por passarinheiros e a colisão com linhas de transmissão representam outras ameaças à avifauna de Itirapina. Nas áreas privadas do entorno da estação ecológica, os campos e capinzais úmidos estão sendo convertidos em plantações de arroz, soja, milho ou laranja, causando erosão e a perda adicional de hábitats importantes para as aves ameaçadas. A mineração de areia já causou sérios danos ambientais e poderá resultar em mais destruição no futuro. Além disso, a região parece estar se tornando mais seca através dos anos, o que pode fazer parte de um ciclo natural ou ser conseqüência de mudanças climáticas globais relacionadas ao efeito estufa.


Recommended citation
BirdLife International (2024) Important Bird Area factsheet: Itirapina (Brazil). Downloaded from https://datazone.birdlife.org/site/factsheet/itirapina-iba-brazil on 23/12/2024.